sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A verdade nua e crua

Hoje quando acordei o dia estava meio cinzento, não sabia o que vestir, sentia-me meio adoentada e quando fui ver o meu feed de noticias deparei-me com um vídeo de um gatinho a chorar no veterinário porque tinha sido espancado. O dia não prometia nada ... e eu já me sentia bem miserável.
Entretanto ao ler as novidades das minhas bloggers favoritas identifiquei-me imenso com um texto da Jojo do blog "Um ano sem zara".
Eu compro/comprei revistas de moda. Algumas. Estão lá em casa a fazer monte. Às vezes agarro e folheio as. Gosto de ver o que era super in à 10 anos atrás. Mais por aí... Não sigo tendências como outrora seguia. Já não tenho a capacidade de me pavonear com algo que acho horrível só para ser igual a meio mundo. Antes, comprava algumas peças de roupa da nova estação e como o dinheiro não abundava repeti-as muitas vezes só para que andasse na moda. Mas nunca segui assim religiosamente ... acabava sempre por ter vários dias de sensatez aguda, mandava tudo ao alto e vestia o que me dava na gana. Gosto muito de fotografia, daí achar piada a algumas sessões fotográficas e imaginar como foi que conseguiram captar aquela expressão, montar o cenário etc ...
No fim de algum tempo sentia-me super deslocada desse mundo. Não me encaixava nos jeans de low waist, nos crop tops, e nos bikinis super mini. Sentia que podia ter menos peito, menos peso, mais altura. Com a idade deixei de me importar com isso, e visto aquilo que gosto. Já não leio bloggers de moda que parecem saídas da mesma loja de roupa. Já não consigo sentir que precisava de emagrecer para vestir uns shorts e crop top justinho como todas as miúdas. Fartei-me de dizer que gostava de ter o cabelo liso para poder amarra-lo e fazer um rabo de cavalo igual à da maioria. O meu cabelo é do ondulado mais rebelde que há. Aceita, Agna! Hoje não o queria esticado nem que não me desse trabalho nenhum. A idade permitiu que me aceitasse mais como sou, e que ousa-se mais a vestir o que gosto mesmo que seja coleção outono inverno 2007. A Jojo tirou-me as palavras da boca no post a seguir. A criatividade dela é soberba, e só por isso quando for grande, quero conseguir ser como ela. Cool e segura como ela. Mas como eu própria. Faço-me entender? Ser eu e gostar de determinadas coisas e usa-las sem medo. Só porque tenho a certeza que são a minha cara  e não porque são a cara do resto do mundo. Este texto foi uma espécie de inspiração para sempre e aconselho todos a lerem. E se não conhecem a Jojo, aconselho a que leiam a evolução dela desde o inicio do blog e o que a levou a criá-lo. Só o nome suscita curiosidade não é?


Aqui vai:


"Eu já fui dessas pessoas que coleciona Vogues. Nem vou fingir que lia todas, não lia. Mas adorava chegar na banca, ver quem tava na capa e comprar a edição do mês. Quando dava tempo, eu fugia da galera do trabalho pra almoçar sozinha e folhear a revista enquanto comia o meu prato preferido no restaurante do lado da agência (picadinho com purê de batata baroa, seguido de brigadeiro quente). Era o meu momento de indulgência absoluta. Era o meu ritual, o momento Carrie Bradshaw, aquela horinha em que eu me sentia parte de um mundo da moda que eu achava lindo, mesmo sendo tão distante da minha realidade.
A verdade é que sempre que eu terminava de ler a revista, eu me sentia um tiquinho pior do que antes. Um pouquinho menos bonita. Um pouquinho menos na moda. Um pouquinho mais pobre. Não que eu não me achasse bonita, nem fora de moda e muito menos pobre. Mas o comparativo com a vida que eu lia nas páginas da Vogue era tão cruel que não tinha como competir.
Eu nunca seria tão linda quanto as atrizes, tão magra quanto às modelos, tão na moda quanto as editoras, nem tão rica quanto a seleção de produtos “tem que ter” pedia que eu fosse.


Por muito tempo eu aceitei essa invejinha que vinha ao virar a última página e pedir a conta do restaurante. Essa inveja da vida que eu não tinha e provavelmente nunca teria. Eu me convenci de que era normal, que fazia parte da minha busca por inspiração, e que, por mais que eu não conseguisse chegar lá, dava pra chegar perto.
De uns tempos pra cá eu diminuí consideravelmente o volume de publicações de moda que leio com frequência. Talvez por conta de uma maturidade que chegou sem eu perceber, talvez por um senso crítico mais crítico que veio com o meu acesso a mais informação (busquem conhecimento, gente. O ET Bilu já dizia e faz muito sentido). Só sei que eu enchi o saco.
Enchi o saco de virar a página e ler que preciso ter alguma coisa que a minha conta bancária não permite (nem o meu armário ou a minha vida cotidiana pedem). Enchi o saco de saber que o troço que comprei semana passada na liqui (e que eu achei que era um super achado) já está fora de moda.
As revistas de moda ainda trazem inspiração? Sim, com certeza. Os editoriais de moda ainda são uma maneira de esticar a cordinha da criatividade? Sim, com certeza. Mas eu acho que tá mais do que na hora do jornalismo de moda deixar de lado certos vícios que fecham a cabeça da gente ao invés de abrir. Que inspiram devoção cega ao invés de questionamento e adaptabilidade. Que pregam exclusão ao invés de inclusão.


Sabe o que é pior? Você sai das revistas e vai pros blogs achando que a coisa muda de figura, que o discurso vai ser mais inclusivo, menos ditador. Mas eu cansei de ver blogueira repetindo a mesma fórmula da revista, me dizendo o que eu tenho ou não que ter, o que eu posso ou não posso usar dependendo do formato do meu corpo. Eu mesma já caí nesse discurso várias vezes e hoje me policio muito mais pra não falar as mesmas besteiras de antes.
Por isso que eu resolvi fazer esse post. Quase como um manual pra mim mesma do que nunca falar por aqui. E pra você que tá aí lendo ficar atenta e não cair mais nesse conto. No conto de que você não tem livre arbítrio pra escolher o que vestir, o que comprar, o que achar bonito.
Esse assunto vai longe (e eu já escrevi muito por hoje), mas pra ser bem prática e começar de algum lugar, aqui vão as cinco expressões de moda que eu mais abomino (e ainda é tudo em inglês pra irritar mais um tiquinho). A minha dica: se você esbarrar com alguma delas por aí, vire a página, ou feche a revista, o site, o blog e siga feliz com o seu dia.
1. MUST HAVE 
Em português, o bom e velho “tem que ter”. Pode abrir qualquer revista de moda que você vai encontrar uma expressão dessas salpicada em algum lugar.
É cruel, é ditador e não leva em consideração a sua vida, a sua conta bancária e o seu estilo pessoal. Quem disse que top metalizado cropped combina com você? E se não combina, por que você tem que ter? Fora isso, como vamos ver a seguir, o “must have” de hoje é o “must jogar fora” de amanhã.
2. DO’S & DONT’S
Alguém dizendo pra você o que é “certo” e o que é “errado”. Exemplos que a gente vê todo dia:
“Baixinha não pode usar saia midi”
“Gordinhas não podem usar listras horizontais.
Notícia em primeira mão pra todo mundo que solta essas pérolas: moda não é matemática. Não é uma ciência exata. E não tem certo e errado.
Isso tudo de do’s & dont’s só tem um nome e, desculpem a expressão, se chama cagação de regra.
Só você pode dizer o que é certo ou errado pra você. E a diferença entre um e outro deve ser sempre: o que te faz se sentir bem e bonita e o que não te faz se sentir bem e bonita. Ponto.
Lógico que nada impede que você busque informação e soluções pra se sentir mais bonita no seu dia a dia, bem como opiniões de gente que você admira (pode ser uma amiga, um parente, uma blogueira, uma atriz, uma colega de trabalho, enfim), mas a palavra final do que funciona pra você será sempre sua e nunca de uma revista.
3. IN/OUT
Sabe aquela sessão que aparece nas revistas toda vez que muda a estação? Aquela mesma que te fala o que você vai ter que jogar fora que não serve mais pra nada e o que você vai ter que comprar novinho porque senão o povo vai te olhar feio na rua só porque a estação mudou.
Aliás estação no Brasil é uma coisa super marcante, né? Inverno neva, outono cai as folhinhas, né? Acho que não.
Olha, vou contar pra vocês, se São Pedro não tivesse criado as estações do ano, a moda teria abraçado essa tarefa pra si só pra fazer a gente comprar mais.
Chega disso. Vamos reutilizar as nossas coisas? Vamos usar nesse inverno o que a gente usou no inverno passado? Vamos pensar de forma mais atemporal e menos trimestral? O bolso e o mundo agradecem.
4. IT GIRL
Pra finalizar. Vamos parar de selecionar meninas pra estarem num pódio e o resto da humanidade para estar lá no chão se achando pior do que elas?
Todas somos incríveis. Todas temos qualidades e defeitos e isso não nos faz melhores ou piores. Nos faz únicas. Abaixo as it-girls. Todas somos igualmente maravilhosas, tá?"




Posto isto. Aqui vai o link direto para o blog dela: Um ano sem Zara, e inspirem-se.

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